sexta-feira, 2 de maio de 2008

Novelaranjas: "A gênese de um cafa" (Capítulo II)

Capítulo I

Para ler ouvindo: Franz Ferdinand - Take me out


- A primeira coisa que você tem que fazer é parar de idealizar as mulheres. Aliás, pára de idealizar a mulher por quem você está apaixonado, porque você só pensa nela e esquece que existem outras. O ideal mesmo é que você pare com essa merda de se apaixonar.

Meu irmão mais velho. Brilhante.

- Quer dizer, é legal você se apaixonar por alguém. Mas seres humanos normais ficam com a pessoa desejada antes de caírem de amores por ela. Você, não! Você se apaixona por um sorriso, por um conceito, por uma premissa... Você não é normal.

Verdade. Eu poderia discutir o conceito de normal, mas entendi o que ele queria dizer.

- Você tem que tirar essa idéia fixa de namorar da sua cabeça. Você tem vinte anos, não precisa de uma namorada agora. E namorar não é essa besteirada romântica que você pensa. O lado físico talvez seja o mais importante, e você não sabe nada sobre isso.

Incrível, era isso mesmo. Mais incrível ainda foi eu ter passado pela minha adolescência sem nunca conversar sobre mulheres com um cara quatro anos mais velho que morava no quarto ao lado.

- Olha moleque, eu não queria te dizer isso, mas é a única solução que eu vejo: você precisa urgentemente começar a trepar!

Gênio. Eu era provavelmente o único adolescente do mundo não obcecado por sexo, mas sim por romance. Sério, não conheço nenhum outro. Isso deve ter me ajudado a tirar boas notas na escola, mas claramente tinha provocado um atraso no meu desenvolvimento masculino. Agora, porém, eu teria alguém para me guiar pelos meandros do mundo das mulheres, meu querido irmão mais velho.

- Nem fodendo, não vou te levar pra balada. Até pode pegar umas roupas no meu armário, mas comigo você não vai sair.

Filho da puta. E olha que tínhamos a mesma mãe. Mas hoje eu entendo. Ele temia me apresentar uma mulher, digamos, fácil, e terminar me vendo escrever um poema pra ela. Justo. Pelo menos, meio sem querer, ele me alertou pra algo que eu não tinha notado: eu me vestia muito mal. Conceitualmente, eu digo. Nunca tinha subido numa prancha de surfe ou de skate, mas me vestia só com bermudões, casacos de moletom e camisetas de marcas de praia. Nada a ver. Vai ver era por isso que eu tinha sido barrado em algumas boates.

De fato, com um jeans e uma camiseta branca não fui barrado no El Divino. Fui sozinho. Medo, muito medo. Encostei logo no bar e pedi uma cerveja. Muitas gatas. Mas não olhavam pra mim. Quer dizer, acho que não, porque eu não tinha coragem de olhar nos olhos delas. Outra cerveja. Engraçado como o álcool não é tão relaxante assim quando você está uma pilha de nervos. Três, quatro cervejas. A música não ajudava também. Alta e ruim. Até que ouvi uma voz familiar. Feminina. Era a bartender que estava me servindo.

- Tá sozinho, guri?

Um comentário:

Anônimo disse...

Maaaassa! Novela com fundo musical, haha novidade no Laranjas.