segunda-feira, 28 de abril de 2008

Novelaranjas: "A gênese de um cafa" (Capítulo I)

Para ler ouvindo: Ramones - Needles and pins ou The Cure - A letter to Elise

- Um poema?! Quantos anos você tem?! Doze?!

Justo. De fato não era uma coisa muito adulta de se fazer.

- E ainda por cima rima "você" com "esquecer"! Vai formar uma banda emo?!

Comecei a me ofender. Acho foda sacanear o talento de alguém. No meu caso, era o talento de se rebaixar perante as mulheres. Eu era muito bom nisso e não admitia que dissessem o contrário.

- Sério, você escuta o melhor da poesia adolescente: Smiths, The Cure, Arctic Monkeys, Ramones, a primeira fase dos Beatles... Podia ter feito coisa bem melhor!

Porra, fale mal de mim, mas não dos meus ídolos. Desde quando essas bandas falam de sentimentos adolescentes? Tá, tô brincando.

- Aliás, podia ter feito coisa ainda melhor: não escrever essa merda de poema e tomar uma atitude de homem!

Olhando agora, em retrospecto, ela estava coberta de razão. Mas na época eu era um completo idiota. Se você tem mais de vinte anos e só consegue manifestar seus sentimentos por meio de rimas, há algo de muito errado com sua personalidade. Se, para completar, ainda idolatra os Ramones, é um caso perdido.

Tudo bem, hoje eu sei que diferentes pessoas amadurecem em diferentes ritmos. Até me perdôo por ser como eu era aos 20 anos. E não tenho raiva da Tati. Quer dizer, ela foi uma vaca escrota, mas não tenho raiva. A escrotice dela foi altamente benéfica. Principalmente aquela frase sobre virar homem. A Tati, ao seu jeito, fez com que eu virasse um homem. Não foi no sentido bíblico, como eu queria, mas fez.

Faço parte de uma corrente masculina crescente, mas que ainda pode ser considerada alternativa. Muitos dizem que um menino já vira homem quando come a primeira mulher, outros quando arruma o primeiro emprego, alguns dizem que é quando supera a primeira desilusão amorosa. Eu não. Acho que um menino só vira homem quando aprende a lidar com as mulheres. Por isso vemos tantos sujeitos de 25, 30, 40 anos portando-se como um personagem da Malhação, ou até pior, como alguém que assiste a Malhação. Não é fácil lidar com as mulheres. É uma arte. E não tem nada a ver com poesia. A Tati que o diga. Aliás, obrigado Tati, obrigado por ter me feito ver o que era ser um homem, mesmo que tenha sido aos 20 anos. E obrigado principalmente por não ter tido nenhum tipo de pudor naquela noite, na sua casa, exatamente um ano depois. E desculpa por eu não ter ligado no dia seguinte. Nem nunca mais.

Um comentário:

César Soto disse...

porra, é verdade. comi aos 14, mas ainda assisto malhação.
isso definitivamente explica muita coisa...