Trouxe a camiseta do Figueira? Disse o cabo Roberto Delgado. Não senhor, mas já providenciei, senhor, o badeco disse, enquanto o capitão Quiroga resmungava em desaprovação. É mané mesmo, cabo? Tô desconfiado que não, heim. O cabo olha o badeco de cima a baixo e chama o capitão pro lado, disse que não é da ilha capitão, mas que tá aqui a tanto tempo que já se sente um mané de verdade. Mas sem camiseta do figueira, não sei não viu, capitão. Entra ou não entra pro clubinho? O capitão olha de canto de olho pro badeco que espera atento a resolução da fofoca dos oficiais. Sem camiseta é uma falha absurda, não tem como negar, mas precisamos de mais gente pro nosso clubinho. Tem cada vez menos nesta ilha e ele parece útil. Pelo menos acha gaucho tudo viado. Vamos dar um crédito a ele, cabo. Chame-o aqui! E lá vem o badeco todo ressabiado em direção aos dois. Eu ia comprar uma camise... não se explique badeco, tu vai entrar pro clubinho. Dê conta da camiseta depois e estará dentro. Já decorou as regras? Sim cabo Delgado, sim capitão: não permitir a entrada de haoles; não me envolver e muito menos embarrigar mulher de fora da ilha; andar sempre com uma camiseta do figueira... é... esta eu já ia me esquecendo parece né? E o cabo, apenas continue badeco. Sim, pois não, senhor. Deixe me ver... demonstrar sempre aversão aos haoles, mesmo que sejam legais comigo; reconhecer um haole pelo cheiro... ah! uma pergunta senhor. Vou ter treinamento pra reconhecer o cheiro? Sim, claro, disse o capitão, que já se impacientava com o badeco. É muito simples, se não tiver cheiro de peixe, de mangue ou de torcedor do figueira é haole, ou na pior das hipóteses, torcedor do Avaê. Mas este comissariado ainda é permitido na ilha, pois também são anti-haole. Continue, ordena o cabo. Acho que acabou, senhor, responde o badeco coçando a cabeça. Já não bastasse não vir de camiseta do figueira, esbraveja o capitão Quiroga se virando de costas para o badeco, enquanto o cabo se aproxima do aspirante. Badeco, faltou o mais importante, sussurrando, destruir a ponte custe o que custar. Ah! É mesmo! É tão óbvio né, seu cabo, destruindo a ponte não entraria mais haoles. E o cabo, tsc tsc tsc, aproximando-se do capitão enfurecido. O que me diz capitão Quiroga? Ele é muito ruim, não parece um mané de verdade, porra, e tem erros colossais, porra, não sei, porra. Mas porra, até tu tá morando do outro lado da ponte, né cabo? O cabo fica pálido, é... pois eu... eu não tive escolha capitão. Ei de me mudar em breve, não se preocupe. Mas se a ponte cair mesmo, capitão, eu me ajeito em algum lugar aqui na ilha. Vai sobrar lugar, né capitão? Espero que sim. Junto com a ponte penso em jogar alguns haoles no mar também, os olhos brilham... badeco, capitão virando de súbito, tu vai virar mané custe o que custar. Tem 4 anos pra isto. E garanto que somos os melhores pra te ensinar tudo que precisa saber. Pode entrar no clubinho. E o badeco sorrindo, sério capitão? Não acreditando. Vou virar mané! Aliás, eu já sou mané de coração! Que bom que tô entrando pro clubinho, badeco emocionado! Fora, Haoles! E o capitão parabeniza, o cabo parabeniza e o badeco se ajoelha, segurando o quepe novinho. Capitão, só uma perguntinha. Ouvi dizer que os haoles, através dos aposentados que residem aqui e dos haoles originais (os turistas), então, ouvi dizer que são eles que sustentam a ilha, economicamente. Seria meio incoerente expulsá-los, não? O cabo Roberto Delgado arregala os olhos, o capitão sai em direção ao fusca vermelho do cabo. Vamos embora, cabo, este badeco não é mané, porra. Não nasceu na ilha, não pode ser mané, porra. Onde já se viu, haole sustentar a ilha. Pffft! Vamos logo, porra! Capitão Quiroga entra no fusca.
domingo, 23 de março de 2008
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Um comentário:
fontes me informaram que os dois oficiais da força anti-haole foram vistos nas proximidades do lugar onde o corpo de badeco foi encontrado enforcado pela barriga. os médicos que chegaram primeiro no local disseram que o garoto deve ter passado por uma dor sem igual, considerando que, geralmente, suícidios dessa natureza são realizados com cordas amarradas no pescoço.
testemunhas afirmam que o suicídio teria acontecido somente após badeco ter a entrada negada na força anti-haole, a.k.a. "manés unidos pela paz e sem ponte". dessa forma, os dois oficiais não teriam responsabilidade direta sobre o ocorrido.
no entanto, autoridades locais dizem que a palavra das testemunhas pode não ser confiável, já que 80% delas é composta por paulistas, gaúchos e paranaenses.
o próprio autor deste comentário, um paulista, confessa desejar que algum dia tudo isso que foi dito aqui se realize.
quem sabe, um dia...
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