quinta-feira, 11 de junho de 2009

Dia dos namorados: algumas coisas não mudam nunca

Depois dos brilhantes guias produzidos pelo Tomás e pelo César, senti-me compelido a escrever algo a respeito do dia de amanhã. Contudo, não consegui pensar em nada mais cretino e machista do que um texto que publiquei em 2004 no Jornal do DAAG, o centro acadêmico da ESAG, no qual, por motivos que até hoje não compreendo, eu tinha uma coluna.

Quando produzi a peça, tinha 21 anos. Além da mudança do meu estilo de escrever (ele está na formatação original, sem nenhuma alteração), é interessante notar a visão de mundo de um pós-adolescente meio ingênuo e imaturo. Óbvio que o texto é humorístico e não se pretende sério, mas relendo-o agora, lembrei de uma citação de Rob, personagem do meu filme/livro favorito, Alta Fidelidade, quando ele analisa os cinco piores foras de sua vida, começando pelo primeiro, aos 14 anos, quando viu a namoradinha beijando outro menino no parque da escola:

"It would be nice to think that since I was 14, times have changed. Relationships have become more sophisticated. Females less cruel. Skins thicker. Instincts more developed. But there seems to be an element of that afternoon in everything that's happened to me since. All my romantic stories are a scrambled version of that first one."

(trad: "Seria legal pensar que desde os meus 14 anos, os tempos mudaram. Relacionamentos ficaram mais sofiticados. Fêmeas, menos cruéis. Peles, mais grossas. Insitintos, mais desenvolvidos. Mas parece haver um elemento daquela tarde em tudo que aconteceu comigo desde então. Todas as minhas histórias românticas são uma versão bagunçada daquela primeira.")

* * * *

MÊS DOS NAMORADOS: GANHAR OU PERDER SEM ENGANO


É fato histórico que os homens têm enormes dificuldades em dizerem que amam uma mulher. As mulheres se utilizam há tempos desse nosso entrave emocional para desabonar as qualidades sentimentais de todo o gênero, como se tivéssemos orgulho disso. O medo que, supostamente, sentimos de dizer “eu te amo” já está reservado num lugar especial no cérebro das mulheres, conhecido como A.M.A.D.R.A.M.A. (Área Macroscópica de Argumentos para Discussões de Relacionamentos Amorosos, Momentâneos e/ou de Amizade), esperando o momento certo para usá-lo contra nós. E elas sabem como fazê-lo.


Bem, mas a verdade tem que ser dita: sim, nós temos medo de dizer a famosa frase. É uma mistura de insegurança e canalhice, o que não é nada anormal para um homem. O que ocorre é que só dizemos “eu te amo” em duas situações: quando estamos dizendo a verdade e quando estamos mentindo. Dã, óbvio! No entanto, são dois casos completamente diferentes, apesar de ambos terem em comum o fato de que pode dar merda. Vamos examiná-los:


VERDADE: Nesse cenário, o que impede o sujeito de dizer é a insegurança. É extremamente peculiar, porque, geralmente, é a mulher quem diz a frase primeiro. Ingenuidade ou auto-confiança feminina? Não sei, mas quando ela não o faz é que começa o drama para o homem. “Será que eu digo?”, “será que ela também me ama?”, “será que ignoro toda uma educação tradicional machista, abro meu coração e exponho meus sentimentos para uma mulher, a raça mais malvada e vil da Terra?”, “onde está meu uísque?”, enfim, vários pensamentos passam pela cabeça do macho sensível num momento como esse. Porque não há nada de pior do que você escancarar o amor por alguém e receber de volta algo como “eu também gosto muito de você”, “obrigada” ou, a pior de todas, “ai que fofo...”. Há, ainda, aquelas mulheres que dão um abraço afetuoso ou um beijo caloroso, o que constitui um bom disfarce. Afinal, o sujeito está meio abobalhado pelos litros de adrenalina que estão sendo despejados no sangue, que nem percebe que acabou de dar as rédeas do relacionamento para a mulher (o que, todos sabemos, não é nada bom...). A atitude mais comum, e a mais correta, que tomamos após a negativa da reciprocidade é terminar tudo. Contudo, o macho sensível esperto deixa o coração destroçado um pouco de lado e analisa a situação: “termino agora ou deixo pra amanhã?”. É tudo uma questão de observar o comportamento da mulher nos minutos pós-desastre. Se ela não estiver contendo o sorriso, aquele malévolo, com o cantinho da boca, terminamos na hora. Se por outro lado, percebemos que ela está meio tensa, tentando nos agradar, deixamos para o dia seguinte. Ela provavelmente está morrendo de pena e pensando em recompensar sexualmente seu novo cachorrinho, pois, no fundo, as mulheres sabem que somos sensíveis e que ficamos tristes. Não que uma noite de sexo selvagem, com a mulher que o sujeito ama sendo completamente devota ao prazer dele, cure a enorme dor em sua alma. Ajuda, porém.


MENTIRA: O “eu te amo” mentiroso é um subterfúgio que utilizamos somente com motivações abjetas e quando temos certeza que nossas mulheres nos amam. Ou seja, quando elas o dizem, pois somos muito desconfiados. Normalmente, é utilizado naqueles momentos clássicos de sofá em que o sujeito está desesperadamente tentando avançar o sinal e a mulher não deixa. Sabendo que ela só está se fazendo de difícil, o macho canalha reduz a marcha e pensa no que fazer: continua na ignorância ou ignora os riscos e diz que ama a garota? “Que riscos?”, você pergunta. Bem, o teatro acontece da seguinte maneira: pegamos a mão da mulher, olhamos bem no fundo de seus olhinhos apaixonados e dizemos algo como “sabe amor, eu gosto tanto de te beijar... blábláblá... queria estar sempre com você... blábláblá... acho que estou começando a sentir algo especial por você... blábláblá... acho que te amo”. Após o sorriso emocionado da garota, partimos para o rala-e-rola de novo. A partir daí, pode vir uma boa ou uma má notícia. A boa: ela se amarrou e... sinal verde!!! A má: ela se amarrou e... sinal vermelho!!! Explico: ela iria se amarrar de qualquer maneira, só que ela pode ficar tão encantada que, na sua concepção pseudo-moralista, um relacionamento mais carnal passa a ser algo impuro para duas pessoas que se amam tanto. Aí ferrou... Ela dá um tapa na sua mão, põe o sutiã e diz: “ai amor, que bom que você se abriu, agora podemos discutir nosso relacionamento”. E depois de três horas de dê-érre (leia-se um irônico monólogo sobre a importância do diálogo no relacionamento), ela dá o tiro final: “amanhã, em vez de vir aqui na sua casa, em que você mora sozinho, podemos ir no meu apê assistir aquela nova comédia romântica com a Meg Ryan; e assim você aproveita para conhecer os meus pais e a minha cadelinha, a Pipoca”. Sejamos justos, não é a mulher que dá o tiro, mas sim o tiro que o sujeito deu que saiu pela culatra. É de dar medo ou não?


Enfim, é por isso que temos medo: porque pode dar errado. Contudo, se der certo e houver a reciprocidade, é bem legal. Mas eu não vou falar sobre isso, né? Pra isso existem as escritoras mulheres. Até a próxima coluna, então. Isso se as minhas queridas editoras Elisa e Isabela não me demitirem por ser machista... Quem gostou do texto, torça por mim!

8 comentários:

Mariana Porto disse...

HUAHUAHAUHAUHAUAHUAHUAHAUHAUHHA!!!
Caramba, Volps!
Eu já tava me divertindo aqui com os guias, mas seu post foi demais!
Uma obra prima sobre a relação homem-mulher!
Sensa-cional!
E nem vem com essa modéstia de "meu texto mudou muito"... Você nasceu pra isso!
Sou sua fã!

E, como entre a gente não rola essa de tirar o sutiã, posso dizer sem medo de "dê-érre": AMO VOCÊ!

César Soto disse...

caralho, meu velho!

concordo plenamente contigo numa parte que achei da maior importância: também não faço a menor idéia de por que você tinha uma coluna.

=D

de qualquer forma, difícil de acreditar que esse parceiro de boteco já teve um coração tão sensível batendo dentro de seu peito calejado... é por isso que, como somos dois cabras machos que têm completa segurança sobre suas masculinidades, posso dizer sem medo de "dê-érre": AMO VOCÊ, gatão!

César Soto disse...

P.S.: me liga ;)
o celular tá no post debaixo xxxx

Tomás Petersen disse...

pois é, que sensível.

Tomás Petersen disse...

essa é a primeira de quatro postagens até você assumir a homossexualidade.

Bruno Volpato disse...

Mari...

Obrigado! (Abraço afetuoso)

César...

Gay.

Tomás...

You're gay for saying that. And because you like Coldplay.

Anônimo disse...

Ooorra, eu posso explicar o motivo da coluna no jornal do DAAG, hahaha

"Contudo, se der certo e houver a reciprocidade, é bem legal". Era o Volps tentando não se queimar com todas as gatinhas da ESAG por causa de um texto... E agora é o Volps, tentando não se queimar com todas as gatinhas do jornalismo por causa de um texto!!!!

Anônimo disse...

so pra constar, a segunda parte do meu post não tem nada a ver com a primeira!