quinta-feira, 10 de julho de 2008

Editorial: Cansei de ser indie

(Esse post é apenas para fazer propaganda do meu outro brógui, o Música pra Ler, mas até que é gozadinho. E não estou sendo metafórico.)

Se você me perguntar, hoje, qual tipo de música eu mais escuto, responderei "rock indie" sem maiores ponderações. Não é porque é cool ou porque eu faço jornalismo, é porque eu gosto mesmo. Costumo dizer que o primeiro disco dos Strokes (Is this it, de 2001) salvou a minha vida musical de ser fadada a ater-se a rock feito antes de eu nascer e baladas pop. Gosto de ler blogs e colunas que me informem sobre as novidades indie, idolatro o NME, baixo muita música nova e escuto pra cacete aquelas que me agradam mais.

De vez em quando, porém, preciso de música com testosterona. Rock de macho. Sim, pois posso apontar dezenas de qualidades nas bandas indie, mas macheza em excesso não está entre elas. Basta ver as calças que os rapazes usam. O fato é que a distorção empregada nas guitarras por essas bandas não é o bastante. Volta e meio preciso estourar os falantes do meu carro com o Guns N Roses, o Queens of the Stone Age e, a maior de todas as bandas de bar, o AC/DC. Audioslave, Hellacopters e Velvet Revolver também tiveram sua fase.

Além da distorção, há várias outras diferenças menos óbvias entre as vertentes indie e hard. Em termos de temática, tomemos o primeiro disco do Guns (Appetite for destruction, 1987) como exemplo: é basicamente sexo, drogas e rock n roll. Excessivamente machista e misógino, o disco tinha na capa uma prostituta sendo estuprada por um robô e, na última faixa, uma gravação real de Axl Rose fazendo sexo com a namorada do batera Steven Adler. Quer mais? Leia a letra de "Anything goes", então e pergunte-se: quem precisa de metáforas no rock n roll?

Os indies, por outro lado, costumam ter uma abordagem mais loser em relação às mulheres. Sentimentos de inadequação em boates, insegurança para manter uma garota, romantizações em excesso, figuras de linguagem, enfim, tudo o que o Kid Abelha já fazia no começo dos anos 80. Drogas? Maconha, no máximo, e ainda de forma glamourizada. Nada de reclamar que o seu traficante estava te enrolando com a remessa semanal de heroína que mantinha a banda na estrada, como fazem os hard rockers.

Essas diferenças vêm principalmente das influências das bandas. Os indies beberam muito da geração pós-punk new wave dos anos 80 e do próprio punk, mas da vertente dos Ramones, que viria a gerar o emocore dos anos 90. Ou seja, uma turminha de perdedores deprimidos que não comiam ninguém. Os hard rockers, por outro lado, bebem do ritmo mais sacana já inventado, o blues, e também do punk, mas da vertente dos Sex Pistols, que viria a gerar o hardcore já nos anos 80. Ou seja, um pessoalzinho pervertido que gostava de bebidas vagabundas e de vagabundas bêbadas, pardon my french.

Tudo isso se reflete diretamente no som e nas letras. Os hard rockers não têm muito tempo pra ler ou estudar com tanto sexo, drogas e bebidas para passar o tempo, então acabam fazendo um som mais sujo, cru, direto e, para groupies em geral, sexy. Os indies acabam sendo melhores na exploração ritmica e nas letras, mais metafóricas e simpáticas. Ou você imagina uma banda indie lançando uma canção como "Make it wit chu", do Queens of the Stone Age? Nem sonhando. Cada estilo tem seu valor, é bom que se diga. Às vezes, porém, esse negócio de indie cansa e tenho que voltar-me para a ignorância de uma distorção no máximo e o volume no 11. Rock de macho. E não estou sendo metafórico.

Um comentário:

Fernando Silva disse...

Quer uma banda nova com rock de macho? Eagles of Death Metal. Tem um dos carinhas do QOTSA. Tem até uma baterista gostosa.